O Que Sobrou de Mim

Desde pequeno, eu sonhava com um relacionamento feliz. Admirava os filmes, desenhos e séries que retratavam o que parecia ser o amor ideal. Aquele amor intenso, bonito, recíproco. Mas, à medida que fui crescendo, descobri que a realidade era bem diferente.

Conheci meu primeiro amor, me entreguei por inteiro, mas, infelizmente, não era o cara ideal que ela sonhava. Me humilhei, fiz de tudo para ser aceito, para me encaixar no que ela esperava, mas nada era suficiente. O orgulho que eu tinha por tudo o que fazia de melhor foi desaparecendo pouco a pouco, sufocado por decepções amorosas que deixaram marcas profundas. Os traumas se acumularam, os bloqueios surgiram, e sem perceber, eu me perdi de mim mesmo.

Com o tempo, outras garotas entraram na minha vida. Eu tentava seguir em frente, tentava encontrar algum sentido nos novos relacionamentos, mas a verdade é que eu apenas as usava para preencher o vazio que outras haviam deixado. Passei a acreditar que, se eu não colocasse sentimento, poderia ter tudo o que quisesse sem me machucar. Eu me tornei frio, distante, e me enganei achando que estava no controle.

Mal sabia eu que essa escolha me levaria a um abismo ainda maior. Com tantas idas e vindas, eu só me tornava alguém que machucava as pessoas. Eu não me importava… ou pelo menos achava que não. Mas, nas madrugadas, quando o silêncio tomava conta, minha mente me torturava com perguntas que eu não conseguia responder.

“Por que eu não paro?” “Por que deixei aquele cara de antes morrer dessa forma?”

Busquei ajuda, tentei entender, me tratei por semanas, por meses, mas essas perguntas continuam sem resposta. Talvez algumas coisas simplesmente não possam ser explicadas. Talvez seja um ciclo sem fim, uma parte de mim que nunca conseguirei consertar.

Então, se um dia você se apaixonar por mim, me dê o primeiro fora de cara. É necessário. Porque, se eu não consigo aprender no amor, eu vou aprender na dor.

Mas será que a resposta para sua dor precisa ser sempre mais dor? Será que o aprendizado precisa vir acompanhado de sofrimento? Talvez o verdadeiro crescimento não esteja em ser rejeitado, mas em reaprender a amar. Amar não apenas os outros, mas a si mesmo também.

O passado pode ter me moldado, mas ele não precisa definir quem eu serei daqui para frente. Se ainda restam perguntas sem resposta, talvez não seja porque elas não têm solução, mas porque eu ainda não cheguei ao momento certo para entendê-las.

Hoje, olho para trás e percebo o quanto perdi tentando preencher um vazio que não poderia ser preenchido por ninguém além de mim mesmo.

Eu sempre ouvi dizer que, quando uma garota está apaixonada, dá para ver no sorriso dela. Mas quando um cara está apaixonado, o olhar diz tudo.

E eu me lembro daquele grupo de amigos, quando estávamos todos juntos. Eu me lembro das palavras que me disseram:

“Agora que ela se foi, você pode ficar com quantas quiser.”

Como se isso fosse solução para alguma coisa. Como se preencher o vazio com mais vazio resolvesse alguma coisa.

Eu também me lembro de todas as vezes que fiz esforço por alguém que não valeu a pena. De todas as noites em que, sem motivo aparente, a saudade bateu forte. Hoje é mais um daqueles dias em que eu sinto sua falta de um jeito terrível e só queria conversar.

Eu me lembro do dia em que olhei para ela e, finalmente, não senti mais nada. Mas também me lembro de quando nos vimos pela primeira vez, cheios de vergonha, sem saber o que dizer.

Eu me lembro de todas as vezes que me doei por inteiro, enquanto ela nunca faria o mesmo.

“Você deixaria todos os seus amigos por ela, mas ela não deixaria todos os amigos dela por você.”

E no meio de tudo isso, percebo que, no fundo, não existe ninguém no mundo que mereça ser machucado. Nem eu, nem ela, nem ninguém.

Eu tinha medo de gostar dela, porque eu sabia que, em algum momento, teria que parar de gostar. Eu sempre senti, lá no fundo, que uma hora ela iria embora.

Ela não tinha motivos para ficar.

Tão bonita, tão…

E eu, mais uma vez, sozinho com as perguntas sem resposta.